Sabadão. Sol. E eu resolvi arriscar e ir ao estádio ver a MLS (Major League Soccer), a liga de futebol aqui dos Estados Unidos. Já tinha assistido tudo que era esporte por aqui, mas o “nosso” futebol ainda não.
Tinha a desculpa de que o jogo era Chicago Fire x Orlando City, time do empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva e que tem Kaká como camisa 10. E eu queria ver como o marketing estava desenvolvendo o futebol por aqui.
Confesso que fui como quem vai a um restaurante brasileiro no exterior: sabendo que não ia ser a mesma coisa, mas deixando o banzo falar mais alto. Mas encontrei um evento que tem tudo que você recebe quando paga para ver um jogo da NBA ou NFL: diversão o tempo todo e marcas criando experiências para potencializarem seus patrocínios.
Já na entrada do Toyota Park (olha o naming rights funcionando), uma mini fanfest e pop upstores da Adidas,lotadas e vendendo merchandising que não ficam nada atrás do que já vi em lojas de times europeus. Passando o portão, se vê a sala VIP da Heineken, um terraço com uma balada.
Dentro do estádio – pensa num “Itaquerinha” para 30 mil pessoas – quase não tinha lugar vazio. E tinha passado Barça e Juve na TV mais cedo (final da Champions League) e, na mesma hora, o Chicago BlackHawks, estava jogando a final de hóquei.
O ingresso é 30 dólares em média, o que não é caro. Qualquer jogo de basquete em Chicago custa 90, hóquei é 120 e futebol americano uns 200 os mais baratos.
O público, que eu imaginava ser predominantemente latino, é o com mais diversidade que já vi aqui: brancos, negros, latinos, crianças e muitas meninas com roupa de futebol, vindas de treinos de final de semana. Fica fácil entender porque o esporte está atraindo tanto investimento.
O time entra em campo e tome show: fogos, molecada com jogadores, mascote, rock n’roll, videoclip bem produzido do time no telão. A bola rola e vejo a primeira diferença para a nossa cultura de estádio: assim como no baseball, outro esporte demorado, os restaurantes ficam lotados a partida inteira. É programa para se empanturrar com a família, beber com os amigos.
Em campo, Kaká meio travado (vem de contusão), Chicago tem um ataque bom com dois africanos, mas uma defesa bem mais ou menos, com um brasileiro, Adaílton, ex-Santos, que beleza, marcando um gol contra.
Intervalo. A Dunkin’ Donuts coloca um jogo interativo no telão que distribui cafés e rosquinhas. No gramado, um aplicativo de carros promove um engraçado “porradobol” que você joga protegido por uma bolha inflável. Um supermercado oferece um galão de leite para quem passar lá depois. É, essa eu não entendi.
Bola rolando de novo. Gols, mais fogos, “ola”. Mas o que empolga a galera de verdade é uma torcida organizada capitaneada por uns gordinhos vestidos de super-heróis cantando a trilha do joguinho Tetris sem parar.
O Fire acabou perdendo de virada, graças a mais um gol contra de – ô, desgraça – Adaílton. 3×2 pro Orlando, cinco gols, valeu o ingresso.
E ainda teve prorrogação para o marketing.
Como comprei o ingresso pela internet, recebi um email marketing me agradecendo por ter apoiado, com link para os melhores momentos, informações sobre o campeonato, acesso para ver o próximo jogo fora de casa pela internet.
No dia seguinte, recebi um telefonema do clube agradecendo pessoalmente e querendo saber o que podia ter sido melhor. Estou mandando esse artigo para eles como resposta.
Os Estados Unidos não é mais o país do futebol do futuro. É um país pronto. É só trazer mais craques que tem jogo. E goleada.
Fotos clicadas por Fabio Seidl: