Desde 2015, o mês de setembro é chamado de Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Este mês eu quero dedicar pelo menos parte dos meus textos a nossa saúde mental e trazer pautas que ainda são pouco abordadas por priorização de outras que são mais relevantes atualmente. Porém, acredito que todas estão interligadas e refletir sobre uma questão como o feminismo, nos faz refletir sobre outras conectadas, como o racismo e a homofobia.
Conversar sobre saúde mental em qualquer aspecto, principalmente do lado pessoal é muito sensível para todos nós. Minha mãe faleceu há 5 anos de câncer, eu tive câncer logo em seguida e ainda demorei 2 anos para entender que eu precisava de ajuda. Hoje, sou diagnosticada com depressão, vou a minha psiquiatra e terapeuta regularmente e sei que não é nada difícil se sentir perdido em um mundo, onde além dos seus próprios problemas, ele está repleto de notícias negativas a cada notificação do seu celular.
Eu fico muito feliz de abrir diariamente meu Instagram com mensagens positivas as mulheres. Apesar de termos muito caminho pela frente, estamos começando a conquistar nosso lugar e a alcançar um pouco de igualdade nos relacionamentos pessoais e profissionais. Mas confesso que vejo muito pouco positivismo falado aos homens. Nasci em uma família coreana, onde naturalmente os relacionamentos são mais fechados, com muita hierarquia e sou a única mulher entre 2 irmãos e 5 primos. Sei que sou uma das únicas mulheres da colônia coreana no Brasil, onde sou muito respeitada pelos meus parentes homens, mas sei também como é difícil mudarmos algo que foi doutrinado por milhares de anos aos homens do mundo todo.
Em janeiro de 2019, a Gilette lançou a campanha: We Believe – The Best Men Can Be (Nós Acreditamos – O Melhor que o Homem Pode Ser). Foi mega retaliada, hoje o vídeo possui cerca de 800 mil likes e 1,5 milhões de dislikes. Sim, #deuruim. Basicamente, eles mostram em 1 minuto e meio vários estereótipos de comportamentos machistas como o “fiu-fiu” no meio da rua, meninos não podem chorar, meninos tem que brigar fisicamente, etc. Essa alta generalização da masculinidade tóxica vindo de uma empresa gigante como a Procter & Gamble, realmente não foi bem vista.
Eu entendi o ponto de marketing de responsabilidade social que eles tentaram mostrar no anúncio, mas é muito controverso vindo de uma marca que vende as mesmas lâminas de barbear para mulheres mais caras que para os homens na cor rosa. Sem contar os escândalos de trabalho escravo que vieram à tona na época da campanha. Talvez tenha sido falta de planejamento, talvez um erro de decisão do diretor, ou um risco que eles quiseram tomar mesmo. De qualquer maneira, o vídeo viralizou e trouxe à tona muitas discussões e polêmicas em ambos os sexos sobre a falta de vulnerabilidade e sensibilidade do homem, doutrinada pela sociedade.
Resumo do Google sobre Masculinidade Tóxica: quando estereótipos masculinos exagerados como violência, falta de emoção, agressão sexual e outros são utilizados. Também quando homens são taxados de “muito sensíveis”, tornando-os “não homens o suficiente”.
Um dos protagonistas da série “Jane, The Virgin” (tem na Netflix :D), Justin Baldoni, reflete sobre como ele cansou desta falta de equilíbrio entre masculino versus feminino e que ele só quer ser um bom ser humano: “Não estou aqui pra dar aula de história. Provavelmente todos sabemos como chegamos a esse ponto, né? Mas sou apenas um cara que, após 30 anos, acordou e percebeu que estava vivendo num estado de conflito, conflito com o que eu sentia no meu âmago e conflito com o que o mundo me dizia sobre como um homem deve ser. Mas não tenho o desejo de me encaixar nessa definição falida de masculinidade, pois não quero ser simplesmente um homem bom. Quero ser um ser humano bom. E acredito que o único jeito de isso acontecer é os homens aprenderem não só a abraçar as qualidades consideradas femininas em si mesmos, mas se posicionarem para apoiar e aprender com as mulheres que as personificam”. Este estado de conflito mencionado pelo Justin Baldoni que quero chegar. Independente do sexo, quando chegamos neste ponto, nos questionamos e realmente tudo fica mais difícil e atos podem se tornar irracionais, com potencial de machucar nós mesmos e outros emocionalmente e/ou fisicamente.
Em 2014, o ator Terry Crews escreveu um livro abordando a masculinidade tóxica e ressalta o fato de não querer ser somente um homem bom, mas um ser humano bom, assim como Justin. De acordo com ele, se você não ajuda quem precisa de ajuda, você nunca terá ajuda. Homens sempre foram ensinados a estar sob controle de tudo, mas não temos controle do comportamento de outras pessoas. Entretanto, quando você perde o controle, você é um perdido na vida e não é “homem o suficiente”.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), quase 40% dos países tem 15 mortes por suicídio a cada 100 mil homens, enquanto somente 1,5% de países mostram uma taxa alta como esta em mulheres. Este é o preço que os homens pagam pela pressão social e psicológica de não poderem falar, ser vulneráveis e simplesmente não estar sempre no controle. Se tivermos mais conversas sobre este machismo contra os homens, inteligência emocional e mostrarmos que não é preciso sofrer em segredo e ter uma válvula de escape como terapia é saudável, talvez o feminismo e a homofobia dariam mais um passo a frente.
Estes três exemplos que eu trouxe no texto abordam como suas esperanças estão na criação de seus filhos e o quão felizes eles estão por poderem ter estes tipos de discussões hoje, algo inconcebível há 10 anos atrás. Assim como o feminismo, os homens tem uma longa trilha de desenvolvimento do machismo e sua desconstrução para alcançarem uma transformação. Apontar o dedo para a masculinidade tóxica sem ajudá-los a conversar mais sobre isso não nos levará ao equilíbrio que buscamos conseguir. Seja você feminista, LGBTQIA+, de qualquer origem cultural/racial, olhe para seu pai, irmão, amigo e companheiro e o ajude a buscar ajuda. Ele pode sofrer internamente sem saber que alguém já estende a mão para ajudá-lo.
***Se você ver alguém que precisa de ajuda, o telefone 188 fornece apoio para quem precisa conversar ao cogitar cometer suicídio. Ele vale em todo território nacional, compartilhe essa informação e ajude outros a pedirem ajuda.
Playlist com nossas boy bands queridas que foram muito taxadas no passado, mas que mostravam toda a vulnerabilidade em suas músicas e amamos muito: