A inspiração vem de dentro. Vem de um lugar, de um som, de um cheiro, do passado, mas, na maioria das vezes, vem de um briefing bem passado pela vida ou de um brainstorm em uma mesa de bar.
Trouxe essa música aqui em baixo para ilustrar quando, para mim, um briefing publicitário e um brainstorm fazem bater uma inspiração artística. Sei que isso é raro, mas se você for produtor musical e tiver a sorte de cair nas graças de alguma dupla de criativos bacanas, pode ser que ela surja.
Fui convidado pelo Fred Saldanha e pelo Eduardo Battiston, da Isobar (ex-AgênciaClick), para criar uma música que apresentasse o novo posicionamento de uma empresa, não vou citar qual – mas se você adivinhar ganha uma estrelinha na testa. O que eles me apresentaram como briefing foi, na realidade, uma leitura da minha geração e do posicionamento que tenho visto algumas empresas adotarem para se adaptar ao pensamento do público do novo milênio. Foi, de certa forma, o resumo de uma entrevista de dei para uma revista sobre minha produtora e onde eu gostaria de chegar com ela.
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Lembro de dizer na entrevista que essa nova geração não quer mais ser dona de multinacional, quer ser dona de uma fábrica de fundo de quintal biosustentável com um logotipo lindo, que vende coisas orgânicas pela internet. Para situar mais a visão lúdica dessa fabriquinha, imagino que ela tem mais de 50 mil seguidores no Facebook, todos os funcionários trabalham no jardim atrás da casa do dono, enfeitado com luzinhas amarelas pendulares. Essas pessoas trabalham de pés descalços, porque o chão é todo gramado, e depois calçam suas havaiana pra andar de bike até em casa.
Quando descrevi essa cena, me diga se você não sorriu e disse: nossa que lugar bacana. Pois é! Por isso a inspiração nessa reunião com meus amigos da Isobar bateu de forma tão natural. O posicionamento do cliente era extremamente parecido com o momento em que diversas empresas, incluindo a minha, estão entrando.
A visão que a tal marca gostaria que seu público alvo tivesse dela seria de uma empresa muito massa de se trabalhar e que é feita de gente normal: que não tem pretensão, mas vive feliz pra caramba. Se pudéssemos descrever com outros sentidos a música que eles desejavam, ela teria uma textura de madeira, cheiro de grama e seria vista sobre uma luz amarelada e quente do pôr do sol.
Agora peço que você, que conseguiu ler até aqui, coloque seus fones de ouvido e acompanhe a ideia da música que é meio visual e, por isso, escrevo algumas linhas:
Quem cantou foi o Paul Hammer, meu amigo do Savoir Adore, banda muito bacana de NY, juntamente com a Brenda Mayer, minha irmã e cantora do CallMeLolla.
A introdução é como se o nosso personagem estivesse na rua ou em alguma praça. Ele canta para “ela” ou para a “marca”. Nesse momento, o personagem feminino começa a aparecer. Depois de apresentarmos a composição até o primeiro refrão – neste espaço de textura mais pessoal e até realístico e documental –, a música entra subitamente na parte que chamo “Sonho”, mais lúdica. Ela fica mais poética e cada um interpreta e vê o que quiser na história – e isso foi o que mais gostei da letra que fizemos juntos, pois ela saiu do meio do brainstorm. O importante é que a mensagem vai sendo passada boca a boca até chegarmos ao mundo todo. Temos então nosso personagem novamente na rua, cantarolando apenas a melodia e não mais a letra da música. E quando percebemos, ele está rodeado de gente com as mesmas ideias na cabeça. Então a figura feminina, a menina ou a empresa, puxa novamente o refrão para termos o grand finale!
Assim, acredito que a inspiração pode nascer de um briefing bem elaborado, tão bem elaborado nesse caso que me enxerguei nele e sei de muitas pessoas que também se identificariam. E de tão verdadeiro que era o posicionamento dessa marca, no lugar de escrever uma música pensando em uma “coisa/marca”, escrevi uma música pensando em uma pessoa, personificando a marca, dando a ela duas leituras: uma canção voltada para o produto versus uma canção voltada para uma menina.
Bom, espero que esse meu primeiro post, apesar de longo, tenha inspirado você de alguma forma e agradeço ao Fred e ao Battiston por essa inspiração meio da correria absurda da publicidade.