Sabe aquela cicatriz na perna, aquele rasgo na sua camiseta ou aquele desencontro com o namorado? Wabi Sabi. Mais do que um conceito, é uma maneira de ver o mundo. Encontrar – perceba bem: “encontrar”, não “procurar” – beleza e harmonia no que é simples, imperfeito, natural, modesto e misterioso. Pode ser um pouco sombrio, mas é também quente e confortável. Wabi Sabi é mais um sentimento do que uma ideia e está no âmago da cultura oriental.
Na verdade, ele tem início no modo de compreender e viver dos antigos chineses, conhecido como taoísmo e zen-budismo. Porém, começou a moldar a cultura japonesa quando o sacerdote budista Murata Shutô de Nara (1423 – 1502) alterou a cerimônia do chá: nada mais de faustos de ouro, jade e porcelana, mas, sim, instrumentos simples e rústicos de madeira e argila para compor o serviço de chá. E se rachassem? Tudo bem, até melhor, eles não seriam substituídos, porque carregavam em si o sinal de que o tempo agiu.
Depois de aproximadamente 100 anos, o famoso mestre do chá Sen no Rikyû de Quioto (1522 – 1591) introduziu o Wabi Sabi nos lares dos poderosos: construiu uma casa de chá com uma porta tão baixa que mesmo o imperador teria de se curvar para entrar. Assim, lembrava a todos a importância da humildade diante da tradição, do mistério e do espírito.
“Wabi Sabi cultiva tudo o que é autêntico ao reconhecer três realidades simples: nada dura sem alterações, nada é completo: nada é perfeito”, descreve uma de suas definições no livro “Wabi-Sabi: a arte japonesa da impermanência”. A vida é transição, movimento. Wabi Sabi é admitir o defeito, revelar a história, o desgaste e o sofrimento e, ainda por cima, louvar a beleza dessas transformações, sendo humilde diante dos mistérios do tempo e do espírito.
Como diria Leonard Koher, cantor e poeta canadense: “Existe uma rachadura, uma rachadura em tudo. E é assim que a luz consegue entrar”.
Referências:
“Wabi-Sabi: a arte japonesa da impermanência” – Andrew Juniper
“Wabi Sabi” – Mark Reibstein