Propagandomúsica: Apagando o fogo com gasolina

Nesta semana um Box celebrando a filmografia do cineasta Quentin Tarantino foi anunciado. Contendo dez Blu-Rays, a caixa contém os sete longas por ele dirigido, extras e True Romance, o qual assinou o roteiro mas quem assumiu a cadeira de diretor foi Tony Scott. O ícone que logo estará nas prateleiras de colecionadores e amantes do cinema chega para nos lembrar mais uma vez sua de presença, que ainda ecoa forte na cultura pop desde o início da década de 90. Ecos que logicamente, ressoaram até a publicidade, seja nas referências, cortes (herança de sua montadora Sally Menke, falecida em 2010) e é claro, com suas peculiares escolhas para trilhas sonoras.

Questionado sobre seu processo de criação, Tarantino afirma que todas elas partem do mesmo princípio: passar um tempo disperso em sua coleção de vinis, até que a partir de uma única canção, surge em sua cabeça protagonistas, personagens secundários e até mesmo a cena de abertura de um possível filme. Foi assim com Pulp Fiction (1994) e o inesquecível assalto à lanchonete, interrompido brutalmente por “Miserlou”, de Dick Dale, e a sequência inicial de créditos.

Suas imprevisíveis escolhas vivem em uma relação simbiótica com as cenas das quais servem de trilha. Ouviu “Stuck In The Middle With You”, do Stealer’s Wheels? Logo surge Mr. Blonde decepando a orelha do pobre policial, diretamente de “Cães de Aluguel”, impresso à pólvora em seu imaginário. Ou a audácia de colocar David Bowie em um filme ambientado durante a segunda guerra mundial, com Shosanna se maquiando antes atear fogo em um cinema lotado de nazistas do mais alto escalão, incluindo o próprio Adolf Hitler. Já ouviu falar de Urge Overkill? Provavelmente não, mas se eu disser “Girl, You’ll Be a Woman Soon”, você passará o dia inteiro assobiando e pensando nós pés descalços da Uma Thurman (e em seguida, no passo de dança em que John Travolta só rivaliza consigo mesmo em Saturday Night Fever).

De acordo com o próprio Tarantino, esse é o momento máximo do cinema, do audiovisual: quando som e imagem se integram perfeitamente, e não conseguimos raciocinar isoladamente. E a publicidade constantemente persegue essa harmonia, em meio a acertos e equívocos. Kill Bill deu origem à uma série de comerciais caricatos envolvendo kung-fu em cabos, slow-motion e litros de sangue fake (até o último comercial do “The Voice” colocou Adam Levine, Christina Aguilera e Cee-lo Green para lutar, abusando dessa fórmula). Fora o rockabilly oriental das 5,6,7,8’s, que teve sua “Woo Hoo” (que já era um cover, perceba) exaustivamente explorada em comerciais da época.

Mas a partir do natal deste ano, toda a indústria do entretenimento (publicidade inclusa) terá uma nova fonte de referências para os próximos anos: Dia 25 de dezembro será a estréia “Django Unchained”, uma mistura de Spaguetti Western com Blaxploitation (por que não?) recheada de funk setentista, como já se pode conferir no trailer. Afinal, se o próprio cinema de Tarantino é classificado como um punhado de referências em um liquidificador, que culpa têm seus “imitadores” os exploradores de sua linguagem?

By Vinicius Alvares

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