DESACELERAÇÃO X ACELERAÇÃO DO COVID-19…AHN? por Camila Jin Ahn

Quando eu comecei a escrever aqui no Reclame, fazia pouco tempo que eu tinha saído do mundo corporativo para entrar no empreendedorismo. Confesso que essa transição de sair de empresas que eram as mais inovadoras do mundo como o Linkedin, Microsoft e Criteo, para entrar em um mundo familiar onde eu ia ter que convencer todos de mudanças e começar do zero várias ações não foi fácil, mas eu estava indo mesmo que engatinhando. Até que veio o Covid-19 e, bom, todos nós acabamos no mesmo barco de um jeito ou de outro.

 

O que o Coronavírus desacelerou na nossa rotina, ele definitivamente acelerou várias tendências que víamos em marcas inspiradoras lá de fora, a transformação digital e a economia circular, coletiva e colaborativa.

 

No meu contexto profissional, planos que tínhamos de conteúdos digitais de engajamento com o consumidor para anos seguintes se adiantaram para estes meses atuais. Home office nunca havia sido cogitado na empresa e, agora, agradeço mais do que nunca ter investido em servidores de nuvem e ter atualizado os computadores do time. Além disso, reuniões de Zoom com outros players do meu mercado que eu nunca achei que ocorreriam em menos de 2-3 anos ou até mais, se tornaram semanais de forma orgânica porque precisamos quebrar a cabeça juntos para ajudar a saúde financeira de nossas empresas e ajudar a taxa de desemprego da melhor maneira que podemos. Nunca tinha vivido esse sentimento de compartilhamento de informações entre os meus próprios competidores, mas sem eles eu também não tenho um mercado para minha cliente buscar variedade de roupas.

 

Neste mercado têxtil, temos inúmeros exemplos de marcas globais como a Louis Vuitton, a Prada e a Ralph Lauren que focaram suas forças na fabricação de máscaras para a pandemia. Seguindo este exemplo, diversas marcas brasileiras de todos os tamanhos também começaram esta iniciativa. Além do fator de solidariedade em um cenário tão incerto, minha marca viu como uma solução de manter o ciclo de alguns costureiros parceiros nossos de décadas e muitos deles doaram parte de sua mão-de-obra para também poderem ajudar nesta crise. O começo do coronavírus causou certamente medo e perdas no setor deles com a pausa da maioria das confecções, mas agora comecei a escutar notícias de que alguns times estão com falta de tempo pela alta demanda de máscaras.

 

Fábricas focadas na doação de máscaras
Fonte: Instagrams @louisvuitton, @ralphlauren @prada

 

Entre as 10 mil máscaras que planejamos doar, eu tentei reunir todo o networking possível que eu tinha para conseguir o apoio e a disseminação da mensagem do clichê “#gentilezageragentileza”. Além, claro, de instituições de saúde como hospital infantil de câncer e clínica de hemodiálise, vamos compartilhar estas máscaras com ONGs que fornecem suporte a famílias de baixa renda em maior situação de risco, funcionários de restaurantes e até organização de resgate de cachorros. Todos os colaboradores dessas estruturas estão mantendo seu trabalho diário apesar do coronavírus e por isso tentamos compartilhar estas doações com setores diferentes. 

 

Com certeza, nós como marcas, esperamos um retorno em cima destas ações. Seja ele financeiro, posicionamento de marca, reputação interna entre os colaboradores e do sentimento de poder ajudar mesmo. De acordo com um estudo da Kantar chamado “Purpose 2020”, marcas com um propósito podem crescer duas vezes mais rápido que outras. O comportamento de compra das gerações Y (Millennials) e Z que já vem sido embasado em perguntas como: de onde vêm esse produto, como a marca me influencia além do produto, quem a marca consegue ajudar e etc, vai acelerar após esta pandemia. Os consumidores irão olhar pra trás e se perguntar: o que essa marca fez durante o coronavírus? Como ela me ajudou nesta crise global? São respostas que temos que fornecer já para moldarmos a opinião que queremos de nossos clientes no gerenciamento pós-crise Covid-19.

 

“Marcas reconhecidas pelo alto comprometimento a um propósito cresceram em uma taxa duas vezes maior que outras”
Fonte: Kantar Purpose 2020

 

 

Outra tendência que acho muito importante ressaltar é o poder das marcas versus o governo. Direta ou indiretamente, as ações filantrópicas resultantes do coronavírus são em consequência da falta de recursos que os governos dos países estão sofrendo nesta crise que gerou a oportunidade de intervenção de grandes a pequenas empresas. Antes do “corona”, marcas mais inspiradoras como a Patagonia nos Estados Unidos, se posicionavam fortemente contra o governo Trump e suas decisões em relação ao meio ambiente, por exemplo. Hoje, cada doação de máscaras e álcool gel é um modo de mostrar que devido a situação atual sem precedentes, nenhum governo estava pronto para uma crise em diversos setores simultaneamente e que é necessária a intervenção privada para tentarmos evitar qualquer 1% a mais do colapso das áreas da saúde e econômica do mundo.

 

Poder de uma marca: a Nike tem mais seguidores no Instagram que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem em seu perfil no Twitter.
Fonte: Kantar Purpose 2020

 

 

A gripe aviária (SARS) de 2003 foi acelerador chave do e-commerce na China e o crescimento do Alibaba decorreu desta crise que forçou os chineses a consumirem mais digitalmente, de acordo com a WGSN. Quero trazer desse fato um pouco de esperança e inspiração para aqueles dias que ficamos mais ansiosos e com medo de toda essa situação. Dentro de uma crise, a transformação digital chegou mais rápido para o Alibaba e ele se transformou em uma das potências mundiais no mundo do e-commerce e marketplaces. É difícil parar para pensar agora no gerenciamento pós-crise enquanto não conseguimos nem chegar a digerir completamente ainda a crise em si. 

 

O cenário do coronavírus me provou que independente do tamanho da empresa, conseguimos ajudar de alguma maneira mesmo que pequena e isso ajudará a moldar sua recuperação após a pandemia. Agradeça sempre seu cliente, seguidor, fã, por sempre fazer parte deste processo com você. Sem minhas clientes, eu não teria verba para a fabricação das máscaras, então elas fazem parte das doação mais do que ninguém. Mantenha essa comunicação ativa com eles para escutar o que eles esperam da marca quando tudo isso passar. 

 

Mais importante, para que tudo isso acima seja alguma dica para você, mantenha sua saúde mental em primeiro lugar (logo em seguida a física por causa do “corona” rsrsrs). Se você conseguir manter a criatividade no trabalho, fazer curso online, “maratonar” no Netflix, zerar um app de joguinho, fazer exercícios de aulinhas de YouTube, meditar e manter seu Instagram ativo e relevante tudo ao mesmo tempo, você tem meus parabéns de super-homem e/ou mulher maravilha. Se não, está tudo bem também e não se cobre por isso. As adaptações vêm a todos em tempos diferentes.

 

Para saber mais:

https://www.forbes.com/sites/afdhelaziz/2019/11/11/the-power-of-purpose-kantarpurpose-2020-study-shows-how-purposeful-brands-grow-twice-as-fast-as-their-competition/
#537358d44236
https://kantar.no/globalassets/ekspertiseomrader/merkevarebygging/purpose-2020/p2020-
frokostseminar-250418.pdf

Playlist da vez é instrumental para depois que você começar seu dia bem, dar uma respirada ou
só não pensar em nada mesmo:

DESACELERAÇÃO X ACELERAÇÃO DO COVID-19…AHN? por Camila Jin Ahn

Sobre o autor
- Os principais achados da redação do Inspirad para inspirar você.