LeTourDuMonde #10: Tulum
Atrasei um pouco este post por que o resto do mundo não espera por nós e a vida muito menos. Comecei a tocar violão aos cinco anos de idade, quando tive minhas primeiras aulas de violão clássico com a melhor professora que poderia ter. Ela me ensinou muito mais do que apenas dedilhar aquele violãozinho: me ensinou que a mesma mão que toca o violão é a que nos trás segurança quando atravessamos a rua, que faz carinho e até cura.
Durante as aulas aprendi algumas músicas regionalistas gaúchas que me fazem sentir saudades de Porto Alegre e saudades dela. Ela se foi no dia 6 de abril e, com ela, as tantas músicas que não aprendi a tocar e que logo mais farão falta na minha memória ao começarem a sumir juntamente com sua voz linda.
Devia ter gravado isso tudo, mas o mundo não esperou e nem me deu esse momento de lucidez. Ela se foi no exato momento em que acabava a música que mostro pra vocês aqui hoje.
Pra quem não sabe, eu e a Iris Fuzaro, minha namorada, gravamos 10 músicas pelas ruas de 10 cidades ao redor do mundo. Passamos por Nova York, Amsterdã, Berlim,Budapeste, Istambul, Atenas, Koh Phi Phi, Bali e Tóquio e contamos aqui neste episódio um pouco do que aconteceu em Tulum, nosso último destino nessa volta ao mundo em busca de inspiração.
A música mexicana é bastante sincopada e me lembra a música gaúcha em alguns momentos. Lembro daquela voz da infância cantarolando melodias empostadas em espanhol: cantos de liberdade sobre a América Latina, sons que pregavam a revolução mascarados por harmonias singelas e letras de duplo sentido por causa da ditadura militar. E toda as manhãs de sábado ouvia de Chico Buarque a Mercedes Sosa interpretados pela voz daquela mulher.
A primeira coisa que me ocorreu chegando no México foi presenteá-la com algo que trouxesse força para sua batalha. Trouxe comigo uma medalhinha de Nossa Senhora de Guadalupe, medalha essa que ficou com ela até o último instante.
O México é um lugar abençoado. O lado caribenho, onde gravamos esse último episódio, é praticamente flutuante sobre rios subterrâneos e cavernas submersas. Mergulhar em um desses cenotes é quase um batismo, uma experiência única e inspiradora.
Acredito que conseguimos trazer essa energia boa de lá e imprimimos isso nessa música e que ela tenha embalado o sono de minha mãe ao nos despedirmos. Espero que gostem da canção. Amamos o que fizemos. Amamos nossas famílias. E amamos o mundo…
Esperamos voltar.
(Confira acima o último capítulo da viagem e, abaixo, a música composta em Tulum)